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sábado, 2 de agosto de 2025

Quem foi Confúcio? O legado central do pensamento confuciano na sociedade chinesa [video]

Hoje resolvi falar sobre Confúcio porque, embora ele seja uma figura conhecida até por quem não tem muita proximidade com a China, poucos sabem de fato quais elementos caracterizam seu pensamento e sua maneira de compreender as relações sociais. Entender como Confúcio via a sociedade é fundamental para compreendermos a sociedade chinesa atual.

Estátua de Confúcio no Templo de Confúcio em Beijing.

A influência de Confúcio (孔子— Kǒngzǐ, 551-479 a.C.) atravessa mais de dois milênios de história, considerado uma das maiores referências da civilização chinesa, com repercussões em toda a Ásia. Sua importância abrange a filosofia, a ética, a educação e a governança, fundamentando tanto as práticas sociais quanto os valores políticos que estruturam o país até hoje.

Confúcio e a fundação da filosofia política e ética Chinesa

Vivendo em um contexto marcado pelo declínio do Estado de Zhou e por conflitos durante o período que ficou conhecido como Período dos Estados Combatentes, Confúcio emergiu como figura central de uma verdadeira “era de ouro da filosofia chinesa”. 

Seu pensamento não apenas codificou os princípios que definiriam a tradição política chinesa, mas também estabeleceu a base para o desenvolvimento de uma ética orientada para a ordem social e o autocultivo. Sua centralidade na história intelectual da China é tanta que ele é reconhecido como o mais importante pensador da civilização chinesa.

Representação de Confúcio e seus discípulos examinando
um pergaminho de seda. Dinastia Ming (1368-1644).

Um dos conceitos fundamentais no pensamento confuciano é a ideia de centralidade do “eu” (zhong), a partir do qual as ondulações de autocultivo moral se expandem para a família, o Estado e, por fim, para todo o mundo (tianxia). Confúcio defendia que o processo de tornar-se humano é indissociável de uma dimensão relacional: seria pelo autocontrole e pela conformidade aos rituais (ke ji fu li) que se estruturaria o caráter moral. 

A noção de Ren (benevolência), termo que combina os ideogramas de “pessoa” e “dois”, traduz a essência do humanismo confuciano. A condição social do indivíduo e sua responsabilidade perante o outro são inerentes à sua humanidade. Nessa perspectiva, o ser humano é entendido como “irredutivelmente social”, e a realização plena só se concretiza por meio do reconhecimento e do exercício dos papéis sociais que o constituem.

Confúcio colocou o li (ritual, propriedade) no centro de sua pedagogia e de sua visão de sociedade e relacionamento humano. O termo, originalmente ligado aos rituais da Dinastia Zhou, foi ampliado para abarcar toda uma sintaxe comportamental que ia desde o protocolo político, cerimônias religiosas, festividades e etiqueta cotidiana até as disciplinas pessoais. 

Mapa mostrando a jornada de Confúcio por vários estados entre 497 a.C. e 484 a.C.

Li, nesse sentido, serve como mecanismo organizador da ordem moral coletiva, assegurando que a moralidade e a virtude possam florescer por meio da educação. Para Confúcio, a educação moral seria não apenas um caminho individual de autotransformação, mas o fundamento para a estabilidade social. O objetivo último do cultivo pessoal era irradiar a virtude de Ren em todas as esferas da vida social.

O intelectual e a política: virtude, governo e responsabilidade social

Na tradição confuciana, a política também tem um grau de importância. Seria uma preocupação essencial e primária. Confúcio concebe o governante ideal como um sábio educado, orientado pela virtude, que atuaria como modelo moral para a sociedade. 

Ao intelectual, Confúcio atribuía o papel de guardião da ética pública, com o dever de se opor ao poder arbitrário e injusto, sempre por meio da força da argumentação moral e não pelo enfrentamento legalista. A ordem justa, para Confúcio, significa o resultado de convenções morais e rituais difundidas pela educação, e não da imposição coercitiva de leis.

A imensa influência de Confúcio está registrada nos Analectos de Confúcio (Lunyu). Uma coletânea de seus ensinamentos e reflexões que se tornaram referência para gerações sucessivas de intelectuais. 

Séculos mais tarde, Zhu Xi definiu os “Quatro Livros” (Sishu), incluindo os Analectos e a Doutrina do Meio (Zhongyong), como base dos exames imperiais de serviço civil. Um mecanismo que institucionalizou o confucionismo no centro da vida política chinesa por mais de cinco séculos. 

O impacto do confucionismo é tal que Karl Jaspers, filósofo alemão, identificou Confúcio como figura-chave da “Era Axial”, período em que diversas civilizações lançaram simultaneamente as bases espirituais da humanidade.

Relevância e reinterpretação no século XXI

Apesar do repúdio a Confúcio durante a Revolução Cultural, um período em que seus túmulos foram vandalizados e seus valores oficialmente contestados — uma consequência também do uso do confucionismo pelos conservadores no período pré-revolucionário —, sua figura foi plenamente reabilitada a partir de 1978, provocando forte comoção entre confucionistas devotos. 

Atualmente sua mensagem de “valores coletivos de trabalho árduo, dever e benevolência”, tal como a ênfase na fraternidade universal, ressurgem como respostas às pressões do individualismo contemporâneo. 

Compartilho com vocês dois filmes sobre Confúcio. O primeiro (em versão dublada), que em português ganhou o título: A Batalha pelo Império (2010), mostra sua trajetória, a relação com o taoísmo (na figura de Laozi) e com as dinâmicas políticas do período dos Estados Combatentes. O segundo é um documentário com várias entrevistas interessantes. 

O governo chinês, incluindo lideranças como Xi Jinping, tem promovido abertamente a “redescoberta da grandeza da civilização chinesa”, citando Confúcio em discursos e inserindo princípios confucionistas em políticas de cidadania e moralização pública, como ilustram os “dezesseis tópicos sobre boa cidadania”. Pensamentos que, por outro lado, também encontram receptividade na vida cotidiana chinesa, em valores compartilhados nas redes sociais como um estilo próprio de convivência social.

A máxima de Confúcio de que “uma ordem que não é moral irá, no final, perder a lealdade essencial da qual depende qualquer governo eficaz” permanece como elemento estruturante para a compreensão das bases da governança chinesa, mesmo em tempos de rápidas transformações sociais e políticas. Assim, os valores confucionistas continuam a ser mobilizados tanto na sustentação da identidade nacional quanto na promoção da coesão social e no direcionamento das políticas públicas.

Bom filme e bom final de semana.



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Temas abordados:

Confúcio, Confucius, 孔子
confucionismo, Confucianism, 儒家思想
ética chinesa, Chinese ethics, 中国伦理
cultura chinesa, Chinese culture, 中国文化

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Nino Rhamos

Nino Rhamos é escritor e pesquisador independente. Tem mais de 30 anos de interesse pela China e formação acadêmica em antropologia. Atua desde 2010 com edição de vídeo e, mais recentemente, com tradução textual intercultural e consultoria em temas relacionados à China.

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