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terça-feira, 29 de julho de 2025

A história de Wudangshan: mil anos de fé e política que marcaram a China

Wudangshan, uma montanha sagrada localizada a noroeste da província de Hubei. Desde 1994 a região é classificada como Patrimônio Cultural Mundial pela UNESCO por representar um complexo arquitetônico taoísta de importância singular na China e no mundo. 

A história de Wudangshan: mil anos de fé e política que marcaram a China. Nino Rhamos
Palácios em Wudang

Próxima à cidade de Danjiangkou, a montanha estende-se por 800 li (cerca de 400 km), com 72 picos, 36 formações rochosas e 24 riachos, sendo o Pico Tianzhu (天柱峰), com 1612 metros acima do nível do mar, o principal. É considerada a pilastra que suporta o céu. Lá existe um templo construído na dinastia Ming, no início do século 15, o Palácio Dourado (太和宫—金顶). A maior construção de cobre da China, com uma estrutura de 90 toneladas que foi toda banhada a ouro em Beijing.

A história de Wudangshan: mil anos de fé e política que marcaram a China. Nino Rhamos
Hubei — foto do autor

A história de Wudangshan envolve o desenvolvimento religioso e está intrinsecamente ligada à história de Zhenwu (真武), ou Xuan Tian Shang Di, e as artes marciais taoístas. No entanto, como é muita informação, hoje vou falar de Wudangshan apenas no sentido histórico. 

Se hover interesse, deixe nos comentários que eu preparo outra postagem falando dos aspectos religiosos envolvendo Zhenwu, as artes marciais internas e Wudang.

Vamos conhecer esse complexo maravilho de montanhas que tanto me inspira. Fica aqui comigo.


Primórdios e o desenvolvimento Inicial

A região de Hubei, conhecida historicamente como Jingchu, fica na região central do rio Yangtze e ao norte de Lago Dongting. Possui uma história longa de ocupação humana e é um ponto de confluência entre as culturas do Yangtze e Zhongyuan (considerada por autores como a origem da civilização chinesa). 

Em Wudangshan, as primeiras estruturas arquitetônicas datam da Dinastia Tang (618-907 d.C.), quando o Imperador Tang Taizong ordenou a construção do Templo Ancestral Wulong (cinco dragões). A história da China, tal como características importantes que resultam na coesão social que vemos hoje, está muito relacionada, dentre outros fatores, a fenômenos naturais e a necessidade de se construir políticas de sobrevivência. O templo Wulong, teria sido feito em memória ou agradecimento a uma oração bem sucedida por chuva. 

A história de Wudangshan: mil anos de fé e política que marcaram a China. Nino Rhamos
Parte da planta baixa do antigo complexo
de edifícios da Montanha Wudang.

Imperadores Tang posteriores, como Suzong, expandiram a presença religiosa, exigindo a construção de mais quatro templos em 761 d.C.: Taiyi, Yanchang, Xiangyan e Changshou

Expansão sob as dinastias Song e Yuan

Durante a Dinastia Song do Norte, em 1018 d.C., o Imperador Zhenzong elevou o Templo Ancestral Wulong a Templo Wulong e ordenou sua expansão. 

A história de Wudangshan: mil anos de fé e política que marcaram a China. Nino Rhamos
Caverna Laojun Moyan. Localizada no sopé sul do Pico do Leão na Montanha Wudang, foi construída no final da Dinastia Tang e era originalmente uma caverna budista. Foi reconstruída no nono ano de Tiansheng na Dinastia Song do Norte (1031). E a estátua original de Buda de Shakyamuni foi alterada para a estátua de Laojun. A imagem mostra a vista distante da Caverna Laojun.

O Imperador Huizong (1119-1125 d.C.), um devoto do Taoismo, ordenou a construção do Palácio Zixiao.

A história de Wudangshan: mil anos de fé e política que marcaram a China. Nino Rhamos
Palácio Zixiao — Wudangshan

Em breve postarei aqui vídeos da minha visita ao Palácio Zixiao.

No período da Dinastia Yuan, o apoio imperial ao Taoismo continuou. Em 1278 d.C., Hubilie conferiu o título de Jiangnan Taoist Tidian a Zhang Liusun e permitiu a reconstrução do Templo Yunxia. O Palácio Nanyan foi construído com apoio financeiro da família real Yuan. A atividade religiosa em Wudangshan durante a Dinastia Yuan se concentrava nos palácios Wulong Lingying, Zixiao Rensheng e Nanyan Tianyi Zhenqing, com várias outras pequenas construções ao redor.

O auge real da dinastia Ming: poder, legitimidade e escala incomparável

O desenvolvimento da arquitetura taoísta em Wudangshan atingiu um patamar sem precedentes no início da Dinastia Ming. Após a Batalha de Jingnan, que o levou ao trono em 1403 d.C., o Imperador Yongle (Zhu Li), enfrentando rumores de regicídio (ter matado o imperador), decidiu construir Wudangshan como um projeto político e cultural de vasta escala. O objetivo era dar legitimidade ao seu governo, promovendo a ideia de que sua ascensão ao poder era uma resposta à providência divida (pesquise sobre o Mandato do Céu na era dinastica) e um reflexo da divindade de Zhenwu.

A partir de 1412 d.C., Yongle enviou 200.000 a 300.000 soldados, trabalhadores e artesãos para Wudangshan. Durante 13 anos eles construíram um complexo imenso, composto por 7 palácios, 9 templos, 36 templos ancestrais e 72 templos rupestres, totalizando 33 grupos arquitetônicos de enorme volume. Foi o maior conjunto arquitetônico antigo construído por um imperador chinês com um único investimento, em um único período de construção e com um único planejamento.

A logística foi monumental. Grande parte da madeira foi comprada externamente e transportada pelos rios Yangtze e Han, vindo principalmente de Sichuan. Itens como esmaltes coloridos eram adquiridos no norte. O próprio Imperador Yongle acompanhava de perto. O Palácio Dourado, fundido em Beijing, foi transportado com escolta militar até Wudangshan

A instalação do templo existente no Palácio Dourado, no Pico de Tianzhu, com seus 1612 metros acima do nível do mar, simbolizou a conclusão do projeto principal e reforçou o status real da montanha, que Yongle renomeou como Montanha Dayue Taihe (太和宫—金顶).

A história de Wudangshan: mil anos de fé e política que marcaram a China. Nino Rhamos
Palácio Dourado — Ponto mais alto de Wudangshan

Assista minha chegada emocionante no Palácio Dourado.

A administração do projeto era supervisionada por eunucos designados pela realeza e tropas para proteção. Um vasto sistema de comando, com 419 pessoas, incluindo pessoal administrativo e técnico, foi estabelecido para garantir a ordem. Existia, além disso, uma força de reparo (tropas de reparo) com mais de 2000 homens que ficavam de prontidão permanentemente só para manter a estrutura dos palácios dos templos.

A história de Wudangshan: mil anos de fé e política que marcaram a China. Nino Rhamos
Detalhe dos telhados característico dos palácios de Wudangshan

A arquitetura de Wudangshan no período Ming ja era impressionante. Seja pelo planejamento preciso, com distinção clara entre as partes principais e secundárias, ou pela extrema organização. A seleção do local priorizava a harmonia com a natureza e a coleta de Qi (Chi — energia vital). 

A história de Wudangshan: mil anos de fé e política que marcaram a China. Nino Rhamos
Detalhe da arquitetura dos palácios de Wudangshan

O sistema de trabalho todo artesanal que foi desenvolvido era considerado único, diferente de todos os métodos da era Song. O complexo foi concebido em três espaços simbólicos — terra, montanhas imortais e céu — narrando a história de Zhenwu, desde seu nascimento terrestre (Palácio Jingle) até sua ascensão e regência celestial (Templo Dourado no pico mais alto do complexo). 

Os oito palácios incluem YuzhenYuxuZixiaoWulong, Nanyan, Taihe, e, posteriormente, o templo Yingen, que foi promovido a palácio em 1483 d.C.

A história de Wudangshan: mil anos de fé e política que marcaram a China. Nino Rhamos
Tartaruga de pedra (símbolo importante para o taismo),
no caminho para o Palácio Nanyan.

No século seguinte, o Imperador Jiajing (Ming Shizong), em 1552 d.C., que era budista e havia sobrevivido a perigos durante sua ascensão, ordenou uma nova reconstrução e expansão do complexo, reformando em ampliando em torno de 2200 templos. Isso demonstrou sua determinação em usar o Taoismo de Wudang como meio de administração do país. 

Declínio e preservação na era moderna (pós-Ming)

Após o período Jiajing, as capacidades financeiras da Dinastia Ming diminuíram, e não houve mais grandes expansões em Wudangshan. Durante a Dinastia Qing, a montanha entrou em um estado de recesso. Os imperadores Qing, seguidores do Lamaísmo, não encorajavam o Taoismo, fazendo com que a manutenção fosse reduzida, dependendo principalmente de doações dos taoístas e do apoio de funcionários locais. No final da Dinastia Qing a turbulência social e os danos naturais e artificiais tornaram as reparações ainda mais difíceis.

No século XX, o complexo sofreu ainda mais perdas. Em 1926, o Palácio de Nanyan pegou fogo. Mais de 100 salões e templos foram queimados. Em 1927, o Palácio dos Cinco Dragões pegou fogo. O salão principal e outros edifícios foram destruídos. Em 1938, durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, o 16º Regimento de Artilharia da 5ª Zona de Guerra do governo nacionalista removeu estátuas de bronze do complexo com o objetivo de derretê-las para munição. Embora muitas tenham sido poupadas. 

Há alguns casos em que motivos inesperados fizeram com que algumas estatuas retornassem para Wudang. Um deles conta sobre uma explosão que teria ocorrido durante a fundição de uma imagem sagrada, fazendo com que o soldado responsável desistisse do trabalho. Mais tarde ela teria sido levada de volta a Wudang. Outros danos também aconteceram durante a Revolução Cultural (1966-1976).

Wudangshan hoje (Patrimônio Mundial pela UNESCO)

Apesar dos desafios, a República Popular da China implementou medidas de proteção. Em 1953, o Ministério da Cultura destinou fundos para reparos. O complexo acabou sendo reconhecido como unidade de preservação provincial em 1956. Em 1961, o Palácio Dourado foi incluído entre as primeiras unidades nacionais de preservação de relíquias culturais e logo em 1962, foi fundado o Escritório de Gerenciamento de Relíquias Culturais de Wudangshan.

O ponto de virada mais significativo na preservação de Wudangshan ocorreu em 1994, quando a UNESCO o incluiu o complexo na Lista do Patrimônio Mundial. Um reconhecimento global que chamou atenção para o seu valor. Anteriormente ele recebia pouca atenção de historiadores fora da China, poucas menções em obras como a História da Arquitetura Chinesa antes de 1970. 

O livro World Cultural Heritage — Ancient Building Complexes on Wudang Mountain (tradução própria) de 2005, é a primeira obra dedicada exclusivamente à arquitetura de Wudangshan.

Ano passado, tive a oportunidade de realizar o sonho da adolescência: conhecer o complexo de montanhas e três dos principais palácios. As histórias de Wudang me marcaram ainda na adolescência, e subir até o Palácio Dourado foi algo indescritível (saiba como surgiu meu interesse pela China). 

A história de Wudangshan: mil anos de fé e política que marcaram a China. Nino Rhamos
No Palácio Dourado de Wudangshan.

Durante o tempo que fiquei lá, pude ver que o legado arquitetônico de Wudangshan está garantido por uma estrutura imensa e organizada, com ônibus novos circulando por rodovias seguras. O acesso à área cênica é pago, o que permite que todo o transporte e o acesso aos palácios sejam gratuitos

Assista ao video da viagem de o ônibus dentro de Wudang até a estação Nanyan


O acesso interno aos palácios, principalmente pelos tradicionais caminhos de pedra, possui muita sinalização e pontos com telefones de emergência. Tudo é feito mantendo as atividades comerciais locais, onde grandes hotéis, pequenas lojas, barracas e pousadas familiares garantem boas condições para os turistas. O mais impressionante é que as atividades turísticas são permitidas de forma a preservar tanto os aspectos históricos quanto a vida dos moradores locais e as práticas cotidianas dos sacerdotes. Nem todas as áreas são abertas ao público; algumas possuem restrições de horário.

Wudangshan hoje é um exemplo vivo de arquitetura que pensa nos impactos ao meio ambiente. Mesmo que toda modernização urbana e a reconstrução de áreas antigas causem, inevitavelmente, a perda de algumas características, o reconhecimento e os esforços contínuos de conservação visam preservar a alma e o espírito da cultura Jingchu de Hubei. Afinal, o antigo não está no passado quando é acionado no presente como instrumento de reflexão e direcionamento para o futuro, uma característica presente em toda a história da China.

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Nino Rhamos

Nino Rhamos é escritor e pesquisador independente. Tem mais de 30 anos de interesse pela China e formação acadêmica em antropologia. Atua desde 2010 com edição de vídeo e, mais recentemente, com tradução textual intercultural e consultoria em temas relacionados à China.

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