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quarta-feira, 30 de julho de 2025

Entre o Pato Mandarim e o Quatro de Maio: tensões entre sucesso comercial e engajamento no início do cinema chinês

A Persistência dos Dramas do Pato Mandarim e da Borboleta no Cinema Chinês

No início do século XX, o cinema chinês se constituiu num campo de disputas intensas entre diferentes concepções de arte, política e mercado. 

Cena do filme Small Toys (1933)

Nesse contexto, o que mais se destaca foi a oposição entre o sucesso comercial dos chamados Dramas do Pato Mandarim e da Borboleta (Mandarin Duck and Butterfly Dramas, 鸳鸯蝴蝶派) e as aspirações transformadoras dos intelectuais vinculados ao Movimento Quatro de Maio (五四运动).

O gênero “Pato Mandarim e Borboleta”: entre a tradição e o mercado

Originalmente um gênero literário de grande popularidade, os dramas do pato mandarim e da borboleta tinham como principal característica histórias sentimentais, melodramáticas e centradas em universos urbanos e burgueses. 

Sua transposição para o cinema fez um enorme sucesso de bilheteria, já que esses filmes eram acessíveis ao grande público e facilmente assimiláveis em contextos de rápida urbanização, especialmente em Xangai. 

O sucesso comercial de produções como Lonely Orchid (1926), Orphan Rescues Grandfather (1923) e The Burning of the Red Lotus Temple (1928) são exemplos do apelo dessas narrativas, ainda que, muitas vezes, reforçassem ideologias conservadoras e valores tradicionais confucianos. Que vinha sendo acionado por vertentes do movimento nacionalista.

Tensão com as aspirações do Movimento Quatro de Maio

Enquanto os filmes de “borboleta” dominavam o mercado, os intelectuais e reformadores do Movimento Quatro de Maio defendiam uma arte socialmente engajada, capaz de dialogar com os problemas da modernização, da desigualdade e da crise nacional. 

Críticos desse movimento viam os dramas populares como escapistas e incapazes de mobilizar a sociedade, de modo a promover uma transformação social. 

A chegada de figuras como Hong Shen ao estúdio Mingxing em 1925 foi recebida com perplexidade. Um colega de Fudan chegou a considerar como uma “prostituição da arte”. Mesmo assim, obras mais psicológicas e socialmente complexas, como Young Master Feng (1925), raramente conquistavam o mesmo público, revelando um abismo entre a expectativa crítica e o gosto dominante nas salas de cinema, ao menos antes dos eventos políticos tomarem de forma mais contundente o sentimento nacional.

Estratégias dos estúdios e o compromisso narrativo

Os grandes estúdios, especialmente Mingxing, buscaram equilibrar essas pressões. Com o recrutamento tanto escritores populares de “borboleta” (como Bao Tianxiao), quanto de intelectuais reformadores (como Hong Shen), tentando construir um compromisso narrativo entre entretenimento comercial e engajamento ideológico. 

A produção cinematográfica se transformava em um campo de negociação entre o apelo de mercado e o “espírito do Quatro de Maio”. No entanto, alguns historiadores dizem que ele não teve muita projeção por estar associado ao individualismo liberal, que não encontravam apoio social consistente. 

Nacionalismo: ponte entre mercado e política

A partir dos anos 1930, com a fundação da Lianhua Film Company, as tensões ganharam um novo contorno. O diretor Luo Mingyou articula um discurso nacionalista como resposta ao crescimento das invasões estrangeiras. 

A defesa da “unidade nacional” deixa de ser apenas uma estratégia de mercado para se tornar uma exigência social. 1932 Sob o pretexto de manifestações anticomunistas, os japoneses bombardeiam Xangai. Os comunistas declaram guerra aos japoneses, mas o governo do KMT prefere o apaziguamento. Foram acontecimentos que provocaram uma grande inflexão. Numa China marcada por décadas de crise desde o colapso da dinastia Qing. Esse sentimento, consolidado pela década de 1930, fortaleceu-se durante a guerra civil e culminou, em 1949, com a fundação da República Popular da China, consolidando a inflexão política do cinema e da sociedade chinesa.

Entre a arte, o mercado e a política

O sucesso de filmes como The Spider Cave (1927), de forte apelo erótico, o que mostrava uma mudança em social em termos comportamentais de gênero, ou o insucesso comercial de produções aceitas pela crítica da época, como Young Master Feng, são exemplos de como as preferências do público moldaram profundamente o desenvolvimento do cinema chinês. O filme Woman Warrior White Rose de 1929 (女俠白玫瑰) abaixo, é um exemplo de como as representações comportamentais, aqui, mais precisamente de gênero, estavam atreladas a interesses coletivos. 

Conheça outros filmes chineses clássicos.

O cinema, nesse sentido, não foi um instrumento apenas de mobilização social, ou mesmo de influência ideológica. Ao mesmo tempo que interferia no contexto social ele também representava as próprias mudanças na sociedade, sobre comportamento, coletividade e ideais de nação e soberania. 

A própria "nação-povo" (minzu) foi umas das principais, senão a principal, preocupação entre as décadas de 1920 e 1940, vislumbrando uma nação moderna que dependia de um povo forte capaz de resistir a forças militares estrangeiras e à infiltração cultural ocidental.

A trajetória dos Dramas do Pato Mandarim e da Borboleta (Mandarin Duck and Butterfly Dramas) demonstra que, desde suas origens, o cinema chinês foi atravessado por tensões entre o popular e o politicamente engajado, entre o sucesso comercial e as aspirações críticas. No entanto, com a intensificação dos eventos políticos o nacionalismo deixou ser um contraponto ao mercado e mais uma questão mobilizadora de diversos setores da sociedade civil. Mais do que uma disputa entre direita e esquerda, como muitos acabam por reduzir aquele momento, a demanda era por soberania, fortalecimento coletivo e qual projeto nacional seria capaz de representar melhor a identidade chinesa. Uma dinâmica que revela a complexidade da formação do cinema na China moderna, mostrando que arte, mercado e política sempre estiveram em negociação.

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Temas abordados:

antropologia do cinema chinês; cinema chinês étnico; visual anthropology China; Chinese ethnic cinema; Mandarin Duck and Butterfly Dramas; Movimento Quatro de Maio;

中国电影人类学; 中国民族电影; 中国视觉人类学; 五四运动


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Nino Rhamos

Nino Rhamos é escritor e pesquisador independente. Tem mais de 30 anos de interesse pela China e formação acadêmica em antropologia. Atua desde 2010 com edição de vídeo e, mais recentemente, com tradução textual intercultural e consultoria em temas relacionados à China.

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