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domingo, 10 de agosto de 2025

Do Wu-Shu ao Xondaro Guarani: um diálogo entre artes marciais

A compreensão das artes marciais vai além da técnica de combate. Essa é a premissa central de uma trajetória de pesquisa que uniu a experiência corporal pessoal e a antropologia com foco em estudos étnicos. Com a publicação de "Xondaro Guarani: Arte marcial, performance e política", busquei desvendar o xondaro não apenas como uma prática corporal, mas como uma expressão profunda dos sentidos por trás de uma prática corporal agonística.

Nino Rhamos: Do Wu-Shu ao Xondaro Guarani. Um diálogo entre artes marciais
Mestre Fu Song com Bagua Dao e praticantes de Xondaro do Jaraguá, São Paulo - Brasil

Porém, não há como negar a profunda influência que tive por anos de experiência de convivência com professores e mestres de artes marciais chinesas, em ambientes informais. 

Conheça minha história de mais de 30 anos de interesse na China

Este livro, portanto, é o resultado de uma imersão teórica e etnográfica do meu mestrado em antropologia e estudos étnicos no Brasil. 

Uma pesquisa que se aprofundou nos mecanismos de resistência e identidade do povo Guarani (etnia indígena comum em países da América do Sul, como o Brasil) estudado, valorizando a percepção sensorial e a complexa relação entre corpo, performance e política.

A filosofia por trás do gesto: xondaro como arte marcial

Em sua essência, o xondaro é muito mais do que uma dança ou um treino de guerra. Ele é um conceito do pensamento Guarani, um modo de ser e de se comportar que se manifesta na dança, na socialização e na resistência. A pesquisa, nesse sentido, se aprofundou nessa dimensão, mostrando como o xondaro é um exercício coletivo de resistência que utiliza elementos estéticos e simbólicos para expressar uma intenção de luta. 

Nino Rhamos: Do Wu-Shu ao Xondaro Guarani. Um diálogo entre artes marciais
Prática coletiva do Xondaro. Foto: Museu de Arte Moderna, São Paulo - Brasil

Ao invés de uma abordagem puramente física, a prática promove a saúde do corpo e do espírito, ensinando agilidade, atenção e preparando para a vida adulta. Mas a dimensão política do xondaro — que também se expressa coletivamente — é inseparável, sendo uma ferramenta utilizada em cenários de conflito social para reivindicar direitos e afirmar a identidade Guarani.

Para validar o xondaro como uma arte marcial, a pesquisa adotou a definição de Wojciech Cynarski — antropólogo pesquisador das artes marciais do Institute of Physical Culture Studies, na Polônia —, que expande o conceito para além do combate. 


Nino Rhamos: Do Wu-Shu ao Xondaro Guarani. Um diálogo entre artes marciais
Prática do Xondaro: Aldeia Jaraguá, São Paulo - Brasil.
Foto compartilhada por indígenas na página do Facebook

As artes marciais, segundo ele, são caracterizadas por uma filosofia ética, uma conexão com sistemas religiosos, um foco no desenvolvimento pessoal e a presença de ritos de passagem. O livro, portanto, demonstra como o xondaro se encaixa perfeitamente nesses critérios, desafiando a visão que o categorizaria apenas como dança. 

Assista ao documentário Xondaro Mbaraete - A Força do Xondaro (ative a legenda).

A abordagem teórica também utiliza o paradigma da corporeidade de Thomas Csordas, que valoriza a sensação e a experiência corporal em detrimento da sistematização de movimentos.

Das artes marciais chinesas ao xondaro: as duas Performances Marciais

Minha trajetória nas artes marciais chinesas (Wu-Shu), sobretudo as artes internas, foi fundamental para a compreensão do xondaro. O conceito das duas performances marciais, um dos pilares do livro, encontra um paralelo interessante no Taolu (套路) e no Sanda (散打)

O Taolu, com suas rotinas de movimentos, representa aspectos da "primeira performance", um espaço de preparação e imaginação onde o adversário é subjetivo. O Sanda, por sua vez, expressa a "segunda performance", o confronto real onde as habilidades do Taolu são aplicadas. Essa distinção teórica é utilizada para analisar o xondaro, onde a prática diária (primeira performance) se conecta ao confronto real com um oponente (segunda performance). 

Porém, a segunda performance não necessariamente tem uma dimensão de contato, embora este seja iminente. Nesta segunda performance, a agência da imagem é um fator crucial. A representação visual do corpo em movimento pode influenciar a percepção do adversário, agindo como uma "estratégia política imagética".

Nino Rhamos: Do Wu-Shu ao Xondaro Guarani. Um diálogo entre artes marciais
Performance de Baguazhang.
Mestre Chang Chan Kuei (1859–1940)

Os movimentos diante do adversário expressa elementos mais profundos de interação, onde a força da imagem do corpo em ação, diante do Outro, também exerce influência no resultado final da disputa, podendo anular o contato físico (por resolver o combate sem necessidade da agressão), ou engajar nele como recurso para consolidar o "ataque subjetivo" da performance. 

São elementos existentes em praticamente todas as performances marciais. Nesse sentido, o livro estabelece um diálogo com outras artes marciais, como a capoeira e diversas artes africanas, para demonstrar que essa dinâmica de preparação e confronto é uma constante universal, reforçando a validade do xondaro como uma arte marcial completa.


O livro "Xondaro Guarani: Arte marcial, performance e política" está disponível para compra.


Leia também:


Temas abordados:

artes marciais chinesas, Chinese martial arts, 中国武术
Xondaro Guarani, Guarani Xondaro, 瓜拉尼族Xondaro
Wu-Shu, 功夫, Taolu (套路), Sanda (散打)

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Nino Rhamos

Nino Rhamos é escritor e pesquisador independente. Tem mais de 30 anos de interesse pela China e formação acadêmica em antropologia. Atua desde 2010 com edição de vídeo e, mais recentemente, com tradução textual intercultural e consultoria em temas relacionados à China.

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