Shang (商): dos rituais ancestrais à modernidade de Shangqiu
- Nino Rhamos
- 16 de ago.
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Atualizado: 5 de set.
Sabia que a palavra “shang” (商), hoje associada a comércio, mercado e comerciantes, possui uma origem muito mais profunda e ritualística?
Durante a Idade do Bronze na China, “shang” designava o ato de realizar cerimônias de comunicação com os ancestrais. Essa dimensão etimológica conecta o termo não apenas a práticas econômicas, mas a uma visão de mundo que situava a coletividade em diálogo constante com os antepassados.
O caractere 商 é, em si, uma representação imagética: um ancestral colocado sobre uma mesa, com boca e língua, simbolizando a comunicação entre os vivos e os mortos. Desse modo, o termo “shang” nasceu do lugar de culto e diálogo espiritual. Com o tempo, sua semântica se expandiu, passando a designar o santuário dos ancestrais Shang, a cidade onde o templo se situava e, finalmente, a dinastia e o grupo governante que marcaram profundamente a história chinesa.
Da ancestralidade ao espaço urbano de Shangqiu
A cidade de Shangqiu, no interior da China, carrega essa herança linguística e simbólica. Por séculos negligenciada, Shangqiu era vista apenas como uma pequena localidade fora de rota. Contudo, nos últimos vinte anos, a cidade foi transformada por sua posição estratégica em novos eixos ferroviários: a linha de alta velocidade entre Pequim e o sul, além da renovada ferrovia leste-oeste de Longhai.
Hoje, Shangqiu é um nó ferroviário central da China, abrigando mais de 1 milhão de habitantes em sua nova zona urbana verticalizada, marcada por torres residenciais, hotéis modernos e showrooms de automóveis. Mas por trás dessa modernização, ainda resiste uma cidade murada da dinastia Ming (1513), erguida após sucessivas enchentes do rio Amarelo.

As muralhas, apoiadas sobre camadas de história milenar, cercam um espaço no qual o passado e o presente se encontram. À beira do fosso que outrora contornava toda a cidade, transformado em lago, os moradores de Shangqiu buscam alívio nas noites abafadas de verão. Nesse cenário, a ancestralidade inscrita na palavra “shang” encontra sua materialidade em uma cidade que simboliza a continuidade entre rituais antigos e transformações modernas.
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