A Trajetória Musical - Som, Sensibilidade e Conexão Humana.

Minha relação com a música começou muito cedo, antes mesmo do meu interesse pela China, aos 12/13 anos, com as primeiras aulas de violão. A orientação de um amigo da família, o Sr. Maurício, foi fundamental para aprofundar meu conhecimento instrumental na adolescência.
Aos 18, seguindo sua sugestão, ingressei na Escola de Música Villa-Lobos (Rio de Janeiro). Lá, estudei teoria musical e me especializei em guitarra, com ênfase em improvisação sob a tutela do professor Marcelo Araújo, cuja influência vinha do jazz e de experimentações instrumentais. Embora minhas referências iniciais incluíssem bandas como Pink Floyd, a habilidade de Marcelo em incorporar batidas populares ao jazz abriu meus ouvidos para uma vasta gama de estilos.
Outro pilar nesse amadurecimento foi o professor Mauro Wermelinger, aluno de Hermeto Pascoal. Ele me ensinou a ouvir qualquer estilo como material para expandir a percepção musical. Com ele, a música se revelou como linguagem, conversa e pura expressão sonora sem preconceitos.
Por volta dos anos 2000, já com experiência em bandas de amigos, mudei para Petrópolis e comecei a tocar em pequenas apresentações. Em 2003, no Centro Cultural Raul de Leoni, fui convidado por Fred Justen para ser diretor musical da Companhia de Teatro Vem Que Tem (hoje Satura Companhia de Teatro), iniciando uma colaboração que dura até hoje.
Em 2005, idealizei e organizei o show 'Yandê', um projeto com músicos de Petrópolis que explorava ritmos brasileiros e latinos com solos de guitarra. 'Yandê' buscava traduzir, de forma intuitiva, uma preocupação com questões étnicas e diversidade cultural – temas que mais tarde se tornariam centrais em minha pesquisa acadêmica em antropologia. O sucesso de 'Yandê' nos levou a circular por Petrópolis e Rio de Janeiro, mas o falecimento do meu pai em 2010 impactou profundamente minha jornada musical, me afastando dos palcos por alguns anos, apesar de um breve retorno com a banda Fixxer (2011-2012).
Paralelamente, mantive uma carreira consolidada em edição de vídeo e animação digital, o que me conduziu à UERJ em 2015 para o bacharelado em Ciências Sociais, com foco no importante Núcleo de Antropologia Visual (INARRA). O vídeo, com seu impacto social e a imagem como instrumento narrativo, abria um novo caminho acadêmico.
Essa jornada acadêmica, contudo, não anulou meus universos: a China e o Taoísmo internamente, e a música com a guitarra externamente. Pelo contrário, a UERJ ampliou os diálogos entre etnicidade, performance e audiovisual já presentes em trabalhos como 'Yandê'. Todas essas dimensões se interligavam em mim de forma orgânica.
Nos últimos anos, retomei minha colaboração com a Satura Companhia de Teatro, atuando como diretor musical no espetáculo 'Jorge, o Santo Guerreiro' (2021-2025). Ao mesmo tempo, meus estudos universitários se uniram ao interesse pela China, culminando na minha pesquisa de doutorado em andamento.
Hoje, percebo que imagem e som, os timbres frutos de diferentes texturas sociais, sempre me fascinaram — da guitarra rítmica ao próprio nome 'Yandê', que 'falava' sobre etnicidade nos ritmos.
Para mim, a música sempre teve cor, e a imagem sempre veio com o som. Meus estudos de antropologia naturalmente convergiram para performance, arte e audiovisual, enquanto a China, antes um interesse pessoal, se tornou o eixo que amarra todos esses pontos. A música, assim, permanece como parte essencial da minha trajetória, entrelaçada ao teatro, ao audiovisual e à pesquisa antropológica, enriquecendo meu olhar para o comportamento humano em todas as suas manifestações.