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Modernidade e conservadorismo no cinema chinês Pré-1930

  • Foto do escritor: Nino Rhamos
    Nino Rhamos
  • 9 de ago.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 5 de set.

O cinema chinês nasceu de forma curiosa e profundamente conectada às tradições locais. Tanto a Opera quanto o próprio teatro de sombras, foram importantes para consolidar uma narrativa própria, mesmo com a constante influência estrangeira em diversos setores da sociedade. 


O primeiro filme produzido na China, "Dingjun Mountain" (A Conquista da Montanha Dingjun, 1905), tinha elementos da Ópera de Pequim. Foi até protagonizado pelo famoso ator Tan Xinpei, conhecido como o "Rei da Ópera de Pequim". 

Yin Mingzhu - atriz chinesa da primeira metade do século XX
Yin Mingzhu

Exibido em um teatro no estilo tradicional de casa de chá, o filme era apresentado junto a números de ópera e magia, evidenciando a tentativa inicial de integrar o novo meio cinematográfico ocidental ao teatro tradicional chinês.


Yin Mingzhu e a tensão entre modernidade e tradição

Nas décadas seguintes, a chegada de figuras como Yin Mingzhu, mencionada como a primeira grande estrela feminina do cinema chinês, apelidada de Miss F.F. (Foreign Fashion), consolidou nas telas um imaginário marcado pela modernidade cosmopolita. 


Yin era fluente em inglês e adepta de atividades consideradas modernas, como dança, natação e direção de automóveis, e se destacava também pelo estilo inspirado na atriz americana Pearl White.


Em 1925, ela estrelou "Back Home from the City" (Chongfan guxiang), dirigido por Dan Duyu. A obra funcionava como um “veículo estrela” para a atriz e uma verdadeira vitrine do estilo de vida urbano e ocidentalizado: moda, maquiagem, arquitetura moderna, design de interiores e transporte apareciam como objetos de desejo para um público em transformação. 


No entanto, o enredo terminava de forma conservadora e anticlimática, com a personagem Simplicity (Sunü), símbolo da modernidade, e Chastity retornando à segurança do lar rural. Um desfecho que refletia bem a dinâmica moral da década de 1920, quando, apesar do fascínio pelo cosmopolitismo, persistia a valorização dos valores familiares tradicionais.


Estética estrangeira e “sinicização” do cinema

O cinema chinês pré-1930, nesse sentido, incorporava amplamente a abordagem hollywoodiana, tanto em narrativa quanto em técnica, buscando viabilidade comercial. Já em 1926, críticos como Hu Zhifan apontavam uma tendência de “feminização e europeização” na produção nacional. Ao mesmo tempo, diretores como Fei Mu, Zhu Shilin e Sun Yu buscavam um “estilo nacional único”, inspirando-se na pintura, no teatro e na estética tradicionais chinesas. 


Essa “sinicização” da tecnologia estrangeira revelava um duplo movimento. Por um lado, a absorção de modelos ocidentais, por outro a afirmação de uma identidade cultural própria. O que refletia também a dinâmica política da época, uma intensificação da ação estrangeira no país gerando um crescente movimento nacionalista de defesa da soberania chinesa.


Conservadorismo e nacionalismo cinematográfico

O gênero do drama familiar dominava as telas, exaltando a estabilidade da família e defendendo códigos éticos tradicionais frente ao radicalismo contemporâneo, especialmente o do Movimento Quatro de Maio. Obras influenciadas pela ficção “borboleta” e pelas peças “civilizadas” favoreciam reformas graduais, mas mantinham ainda um forte apelo comercial.


Na segunda metade da década de 1920, a censura do Kuomintang (partido nacionalista) e o uso estratégico da retórica conservadora por grandes estúdios, fortaleceram a ligação entre cinema, conservadorismo e ideologia política. 

Críticos como Chen Zhiqing defendiam que um cinema nacional deveria preservar e promover o “espírito nacional”, criticando produções voltadas exclusivamente para elites urbanas. Filmes como "Song of China" (1935), codirigido por Fei Mu e Luo Mingyou, ilustraram essa perspectiva, glorificando valores familiares e alinhando-se ao Movimento Nova Vida do KMT.


Assim, o cinema chinês antes da década de 1930 articulava-se como um campo de tensões, incorporando técnicas e narrativas estrangeiras, mas também usando tais técnicas para reafirmar valores tradicionais e promover uma identidade nacional, negociando, na tela, os conflitos entre modernidade e tradição. Esses conflitos, a partir da década de 1930, se tornariam mais polarizados. A invasão japonesa da Manchúria em setembro de 1931 e o bombardeio de Xangai em janeiro de 1932 mudaram drasticamente o cenário cinematográfico, fazendo surgir o gênero que ficou conhecido como "cinema de esquerda".

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