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Mao Tse-tung: trajetória e a Revolução Chinesa de 1949

  • Foto do escritor: Nino Rhamos
    Nino Rhamos
  • 14 de ago.
  • 7 min de leitura

Atualizado: 5 de set.

Mao Tse-tung (também grafado como Máo Zédōng), nascido em Shaoshan em 1893 e falecido em Pequim em 1976, foi uma figura central na história da China no século XX, atuando como político, teórico, líder comunista e revolucionário. 


Ele liderou a Revolução Chinesa e foi o arquiteto e fundador da República Popular da China, governando o país desde sua criação em 1949 até sua morte. Suas contribuições teóricas para o marxismo-leninismo, estratégias militares e políticas comunistas são coletivamente conhecidas como maoísmo.


A ascensão de Mao e os anos revolucionários (Pré-1949)


A história da China foi marcada por humilhações internas, devido à dominação de imperadores e mandarins, e externas, pela ganância imperialista estrangeira a partir de meados do século XIX. 


Foto de Mao Zedong publicada em "Citações do Presidente Mao Tse-Tung".
Foto de Mao Zedong publicada em "Citações do Presidente Mao Tse-Tung".

Nesse cenário de opressão e revoltas populares, o marxismo-leninismo, trazido à China após a Revolução Russa de Outubro de 1917 e a fundação da Terceira Internacional em 1919, encontrou terreno fértil. O Partido Comunista da China (PCC) foi fundado em 1921.


Mao Tse-tung se destacou por sua capacidade de integrar a "verdade universal do marxismo-leninismo" com a prática revolucionária concreta da China, o que resultou na criação do pensamento Mao Tse-tung. Ele ensinou que a teoria de Marx, Engels, Lênin e Stálin é universalmente aplicável, mas precisa ser adaptada às condições específicas de cada país.

A trajetória da revolução foi longa e repleta de desafios. Inicialmente, houve colaboração entre o PCC e o Kuomintang (KMT), visando à unidade nacional, com muitos membros do PCC, incluindo Mao Tse-tung, integrando o KMT. No entanto, após o massacre de Shanghai em 1927, liderado por Chiang Kai-shek, o KMT passou a perseguir e dizimar o PCC. Essa repressão levou à formação das "bases vermelhas" em províncias remotas e inacessíveis, como Chingkangshan, onde Mao começou a consolidar sua experiência e a desenvolver táticas de guerrilha social camponesa.


O episódio da Longa Marcha (1934-1935) foi um marco importante. Embora representasse uma retirada e uma derrota inicial na construção das bases vermelhas, ela se tornou o início da busca por novos caminhos para a revolução, com táticas renovadas para a guerrilha camponesa e a luta armada de longo prazo. 


A marcha acabou por consolidar a linha revolucionária de Mao em detrimento de outras e redefiniu os rumos da revolução, focando no imperialismo japonês como o principal inimigo.


Nesse sentido, a Guerra de Resistência Anti japonesa (1937-1945) foi crucial. O PCC, sob a liderança de Mao, formou uma Frente Única com o Kuomintang para combater os invasores. A luta de resistência criou uma nova forma de conceber a sociedade entre os camponeses, com transformações culturais que se tornaram rotineiras, distantes das antigas práticas de opressão. Este período foi fundamental para a criação de condições favoráveis à construção de uma sociedade socialista na China. Mao Tsé-tung formulou uma política dual de unidade e luta na frente única, reconhecendo o caráter ambíguo da burguesia chinesa, que ora resistia, ora cooperava com o imperialismo.


Após a derrota do Japão em 1945, a China entrou em uma difícil Guerra Civil (1946-1949) entre o PCC e o KMT. O Exército Popular de Libertação (EPL) passou à ofensiva, estendendo seu domínio por toda a China, enquanto Chiang Kai-shek se refugiou em Formosa (Taiwan) no início de 1949.


A Revolução de 1949 e a proclamação da República Popular da China


Em 1º de outubro de 1949, a República Popular da China foi proclamada, com Pequim como capital e Mao Tse-tung como Presidente. O governo foi estabelecido com uma composição que incluía comunistas e não comunistas. Essa vitória representou o triunfo de uma revolução socialista com características próprias, forjada sob as condições concretas da história do povo chinês, sem imitações e rejeitando ingerências externas. 


Aspectos antropológicos, filosóficos e legado de Mao Tse-tung


Mao Tse-tung é reconhecido como o "Grande Timoneiro" e muitos chineses o veem como um grande estrategista político, mentor militar e "salvador da nação". Seu retrato continua a ser exibido na Praça Tiananmen e nas notas do Renminbi. O culto à personalidade de Mao, especialmente acentuado a partir da Revolução Cultural, levou a que sua imagem e escritos tivessem força de lei e se tornassem parte do cotidiano, no lar, na escola e no trabalho.


Suas contribuições filosóficas são notáveis, com obras como "Sobre a Prática" e "Sobre a Contradição". Ele desenvolveu o materialismo dialético, enfatizando a lei da unidade dos contrários ("um se divide em dois") como a lei fundamental da dialética, à qual todas as outras leis estão subordinadas. Para Mao, a teoria é importante, mas sua relevância se manifesta plenamente na prática social, que é o critério da verdade do conhecimento. Ele distinguiu as contradições antagônicas (entre o povo e seus inimigos) das não antagônicas (dentro do povo), defendendo a necessidade de resolver estas últimas através do debate e da crítica.


Mao também foi fundamental na construção do Partido Comunista Chinês, impulsionando movimentos de retificação baseados na crítica e autocrítica para combater o subjetivismo, o dogmatismo e o empirismo. Ele insistia que a direção correta do Partido deveria vir "das massas e para as massas".


No que diz respeito às transformações sociais, durante seu governo de três décadas, Mao é creditado por avanços significativos como a duplicação da população escolar, o fornecimento de moradia universal, a abolição do desemprego e da inflação, o aumento do acesso à saúde e a elevação drástica da expectativa de vida.


Contudo, o período de governo de Mao também foi marcado por eventos controversos e de grande custo humano. Programas sociais e políticos como o Grande Salto Adiante (1956-1961) e a Revolução Cultural (1966-1976) são acusados de causar grave fome, danos à cultura, à sociedade e à economia chinesa. Autores citam que esforços para fechar a China ao comércio de mercado e erradicar a cultura tradicional foram amplamente rejeitados por seus sucessores.

Em termos de política externa, Mao inicialmente buscou alinhar a China com a União Soviética de Josef Stálin, enviando forças para a Guerra da Coreia e apoiando movimentos comunistas em outros países. No entanto, a China e a URSS divergiram após a morte de Stálin, levando a uma ruptura definitiva no início dos anos 1960. Pouco antes de sua morte, a China começou sua abertura comercial com o Ocidente, culminando na aproximação com os EUA em 1972.


Após a morte de Mao em 1976, houve uma reação contra a Revolução Cultural, com a condenação do "Bando dos Quatro" e o início de um processo de "desmaoização", embora não radical. As reformas de Deng Xiaoping, incluindo as Quatro Modernizações (indústria, agricultura, defesa e cultura), marcaram um retorno a princípios de desenvolvimento econômico-social combatidos durante a Revolução Cultural. Essa nova fase levou ao surgimento do que é conhecido como "socialismo de mercado", que funde o Estado Revolucionário com o desenvolvimentismo de tipo asiático.


Nino Rhamos no Local do primeiro congresso do Partido Comunista da China
Local do primeiro congresso do Partido Comunista da China — Shanghai. Acervo pessoal.

Mao Tse-tung permanece uma das mais influentes da história moderna, que lançou as bases econômicas, tecnológicas e culturais da China moderna, transformando-a de uma sociedade agrária atrasada em uma grande potência mundial.


Mao Tse-tung foi uma figura de imensa influência, e além de seus papéis políticos e militares, há aspectos de sua vida e pensamento que podem ser considerados curiosidades antropológicas, focando em suas visões sobre o comportamento humano, a cultura e a sociedade.

Aqui estão alguns:


  • A Prática como Critério da Verdade e a Importância da Experiência: Mao Tsé-tung defendia uma filosofia onde o conhecimento é inseparável da prática social. Para ele, a verdade de qualquer teoria não é determinada por sentimentos subjetivos, mas pelos resultados objetivos da prática social. Isso significa que, para realmente entender algo, como o sabor de uma pera ou a teoria da revolução, é necessário experienciá-lo diretamente, seja comendo-a ou participando da luta. Essa visão enfatiza a experiência e a ação como fundamentos do saber humano.


  • Crítica ao "Sabe-Tudo" e à Arrogância Intelectual: Mao era crítico daqueles que ele chamava de "sabe-tudo", indivíduos que ostentavam conhecimentos superficiais e se consideravam autoridades, sem ter uma compreensão profunda da realidade. Ele insistia que a busca do conhecimento requer honestidade e modéstia, rejeitando a presunção. Uma metáfora que ele usava para ilustrar a necessidade da prática no conhecimento era: "Como pegar filhotes de tigre sem entrar na toca do tigre?". Ele também criticava aqueles que apenas recitavam frases de teóricos sem conhecimento real, usando a imagem de um "junco nos muros, copas frondosas, caules débeis, raízes não profundas" ou "rebento de bambu nas montanhas, língua afiada, casca grossa, oco o interior" para descrevê-los.


Mao disse:

A pessoa mais ridícula do mundo é o “sabe-tudo” que junta um monte de conhecimentos superficiais e se proclama a “autoridade mundial número um”; o que apenas mostra que não é boa auto-avaliação. O conhecimento é uma questão de ciência, e nenhuma desonestidade ou arrogância é permissível. O que se requer é definitivamente o oposto – honestidade e modéstia. Se quiser conhecimento, você deve participar da prática de transformar a realidade. Se quiser saber o gosto de uma pêra, deve transformar a pêra, comendo-a. Se quiser conhecer a estrutura e as propriedades do átomo, deve fazer experiências físicas e químicas para lhe transformar o estado. Se quiser conhecer a teoria e os métodos da revolução, dela deve tomar parte. Todo conhecimento genuíno tem origem na experiência direta.
  • Valores Fundamentais de Respeito e Unidade: Em suas instruções sobre o trabalho político no exército, Mao enfatizava que a base para boas relações entre oficiais e soldados, e entre o exército e o povo, era uma "atitude fundamental" de respeito pelos soldados e pelo povo. Essa atitude, para ele, era o princípio que geraria todas as políticas e métodos corretos.


  • A "Lei da Unidade dos Contrários" no Pensamento e na Realidade: Uma das contribuições filosóficas centrais de Mao foi sua ênfase na "lei da contradição inerente aos fenômenos, ou lei da unidade dos contrários", que ele considerava a lei fundamental da dialética materialista. Ele afirmava que as contradições existem em todos os processos, sejam objetivos ou ideológicos, e que os aspectos opostos de uma contradição são interdependentes – por exemplo, "sem a vida, não existiria a morte; sem a morte, não existiria a vida". Essa visão da realidade, onde os contrários são vivos, condicionais e móveis, pode ser aplicada à compreensão das dinâmicas sociais e do pensamento humano.


  • Adaptação Cultural do Marxismo-Leninismo: Mao defendia que a teoria universal do marxismo-leninismo precisava ser aplicada às condições concretas da China, assumindo uma "forma nacional" e um "ar e estilo chineses, cheios de frescura e de viço, agradáveis ao ouvido das pessoas comuns". Isso indica uma preocupação com a ressonância cultural da ideologia entre a população chinesa.


  • Critérios para Definir um "Revolucionário": Para Mao, o critério decisivo para determinar se um jovem era revolucionário não era sua mera fé em uma doutrina, mas sim se ele estava disposto a se ligar, e de fato se ligava, às massas operárias e camponesas. Essa perspectiva valoriza a ação e o engajamento social concreto sobre as declarações ideológicas.


Esses pontos oferecem uma visão sobre as preocupações de Mao com a natureza humana, a sociedade e a cultura, além de suas estratégias puramente políticas.

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