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As sombras ancestrais do (电影) “dianying” chinês

  • Foto do escritor: Nino Rhamos
    Nino Rhamos
  • 17 de ago.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 5 de set.

A origem do termo "filme" no mandarim (dianying, 电影) se conecta o cinema moderno ao tradicional teatro de sombras (皮影戏). 


Embora possa ser um conhecimento comum para os chineses, essa relação revela algo interessante que venho constatando em minha pesquisa de doutorado a "tradição" de buscar na histórica os sentidos do presente.


A ancestralidade do cinema chinês e a linguagem das sombras 

Quando o cinema foi introduzido na China no início do século XX, não havia um termo equivalente no vocabulário tradicional chinês para nomear essa nova forma de arte ocidental. A ausência de um nome específico levou à criação de expressões que buscavam ancorar o novo fenômeno tecnológico em práticas já conhecidas pelo público chinês da época. É nesse contexto que surgem expressões como "dianguang yingxi" (电光影戏), literalmente “teatro de sombras elétrico”, e sua forma abreviada, "dianying" (电影), hoje a palavra padrão para “filme” em chinês.


A escolha de "yingxi" (影戏), no entanto, não foi acidental. Ela fazia referência direta ao piying (皮影), o teatro de sombras tradicional chinês, também conhecido como 皮影戏 (piying xi). Nessa forma ancestral de entretenimento, figuras humanas e animais esculpidas em couro eram manipuladas atrás de uma tela e iluminadas por lamparinas, criando imagens projetadas em movimento. 


Essa técnica milenar, profundamente enraizada na cultura performática da China, possui impressionante semelhança visual e funcional com o princípio básico do cinema moderno, que é a projeção de imagens em uma tela para contar histórias através do movimento e da luz.


Dessa forma, a introdução do cinema na China não foi apenas uma importação técnica, mas passou por um processo de “sinização semântica”, incorporando elementos do imaginário cultural local. O termo “dianying” (电影), que significa filme, em termos atuais, acabou por simbolizar essa fusão entre o novo e o ancestral, o elétrico e o artesanal, o estrangeiro e o doméstico.


O primeiro filme chinês e a continuidade estética tradicional

A convergência entre o cinema e as artes tradicionais chinesas não se limita apenas à linguagem. 


O primeiro filme chinês reconhecido oficialmente, Dingjun Mountain (定军山), foi produzido em 1905 em Pequim, e representa um marco simbólico desse processo de adequação cultural. Trata-se de uma gravação de uma performance da ópera de Pequim (京剧), estrelada por Tan Xinpei (谭鑫培), uma das figuras mais icônicas do teatro tradicional da época, chegou até a ser reconhecido como o "Rei da Ópera de Pequim".


Ao escolher uma performance de jingju (京剧) como conteúdo inaugural para o novo meio de entretenimento, os primeiros cineastas e exibidores chineses não reafirmavam apenas as raízes culturais nacionais diante de uma mídia ocidental, mas também sinalizavam ao público que o cinema não era algo completamente “outro”, ou seja, era, de certo modo, uma continuidade estética e narrativa daquilo que já conheciam.


Atualmente, não é difícil encontrar autores e entusiastas que defendem a ideia de que as origens do cinema chinês estão, em certa medida, ligadas ao 皮影戏 (piying xi). Ainda que não se trate de uma filiação técnica direta, é importante lembrar que cinema não é apenas uma técnica, mas também é narrativa, construção de personagens e como a própria tecnologia se compreende e é utilizada dentro das relações sociais. 


Atuação por trás do espetáculo de sombras chinês
Atuação por trás do espetáculo de sombras.

O contexto chinês, por já ter uma tecnologia similar (em termos conceituais) e aceita pela sociedade, reproduziu nessa nova tecnologia estrangeira, aspectos dos sentidos simbólicos já compartilhados no próprio contexto sociocultural. Embora a influência estrangeira, em termos narrativos, também tenha exercido grande influência nas primeiras produções da primeira metade do século XX.

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