O que a história de Shanghai me mostrou sobre identidade, modernidade e revolução na China
- Nino Rhamos
- 21 de ago.
- 2 min de leitura
Quando estive em Shanghai, uma das coisas que mais me chamou a atenção foi como a cidade mistura modernidade com marcas ainda profundas de seu passado. Tendo estudado os acontecimentos do início do século XX, quando Shanghai foi um ponto central de mobilização política, ao olhar para a arquitetura e os detalhes do espaço urbano, ficou claro como ali convivem, lado a lado, histórias de ocidentalização, tensões sociais do processo histórico e o surgimento de novas identidades.
Na década de 1920, Shanghai era um dos centros mais vibrantes da modernidade chinesa, mas também um espaço de contradições. Salões de carros, pistas de corrida de cavalos e, principalmente, os cinemas — que são o foco da minha pesquisa de doutorado — projetavam a imagem de uma classe média em ascensão, cada vez mais ocidentalizada.

Algumas revistas de moda ensinavam como se vestir, andar e até mesmo como gesticular, colocando lado a lado o “tradicional” e o “moderno”. Essa busca por uma nova identidade refletia a pressão cultural de um mundo que se transformava rapidamente.
A virada revolucionária na Shanghai do início do século XX
Ao mesmo tempo, a cidade ostentava murais em prédios bancários que proclamavam: “Todos os homens nos quatro oceanos são iguais”. Porém, na prática, a pressão colonial aumentava. Britânicos, franceses, japoneses, alemães e estadunidenses sustentavam ideologias racistas que negavam essa igualdade. A China era o objeto de ganância dos ocidentais e japoneses. Nesse sentido, o contraste entre discurso e realidade tornava-se um símbolo da contradição. Essa era a vida na Shanghai após o século XIX.
Diante dessa modernização desigual, também germinava um forte sentimento nacionalista. Uma resistência se impunha quase naturalmente a todos os chineses, não por obrigação, mas por sobrevivência diante de tantos ataques. Aos poucos, a cidade foi percebendo que o glamour do "mundo moderno" não incluía os chineses enquanto povo soberano.
Para muitos grupos, apenas a revolução parecia oferecer um caminho para superar a dependência e o domínio estrangeiro. A cidade, assim, deixou de ser apenas um espaço de consumo moderno e se tornou o epicentro de movimentos culturais e políticos que moldariam o século XX chinês.
Shanghai sempre foi uma cidade de contrastes entre a China tradicional e a influência estrangeira. Essa experiência histórica continua perceptível em sua paisagem urbana e em sua atmosfera, que até hoje brilha como a união desses dois universos.
Estar lá me fez pensar que, além das luzes e arranha-céus, a cidade carrega em suas ruas um campo de tensões do passado, uma história superada, mas que ainda deixa marcas impregnadas no seu jeito de ser moderno e de afirmar a identidade na China contemporânea.
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