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Alfred Gell: O Encontro da Arte com a Magia na "Tecnologia do Encanto"

  • Foto do escritor: Nino Rhamos
    Nino Rhamos
  • 8 de set.
  • 2 min de leitura

Você já pensou sobre o que nos fascina em uma obra de arte? Talvez não seja apenas sua beleza, mas a percepção de que sua criação parece transcender o trabalho humano comum.


É a partir dessa ideia que o antropólogo Alfred Gell estabelece uma conexão profunda entre a arte e a magia em sua teoria da "tecnologia do encanto". Para Gell, a arte é um componente da tecnologia e, em muitas culturas, a habilidade técnica do artista é compreendida como um tipo de magia.


A mágica, neste sentido, não se refere a feitiços de contos de fadas, mas a uma explicação para o que parece ser um processo técnico extraordinário. Quando a destreza do artista vai além do que se pode entender, ela é interpretada como um conhecimento oculto ou uma "magia superior da escultura". O objeto de arte, portanto, carregaria o poder do "encanto", não só pela sua forma final, mas pelo mistério de sua criação.


Em sociedades onde não existe o conceito de "belas artes" ocidentais, a arte tem uma eficácia social direta, manifestando-se em rituais e trocas. O virtuosismo do artista, nesse sentido, não seria mera habilidade, mas uma forma de criar assimetrias e influenciar o comportamento das pessoas, um poder que é percebido como mágico.


Da Canoa Kula à Horticultura Trobriand: A Arte como Ação Mágica


Alfred Gell ilustra sua teoria com exemplos etnográficos fascinantes. Nas canoas Kula dos Trobriand, as tábuas de proa ricamente decoradas, em sua concepção, não são apenas adornos; elas são instrumentos técnicos que, por meio de sua beleza e de sua capacidade de "perturbar" quem as observa, influenciam os parceiros de troca a oferecerem bens mais valiosos.


Tábuas de proa das canoas Kula dos Trobriand, esculpidas com padrões geométricos. A imagem ilustra a teoria de Alfred Gell sobre a relação entre arte e magia.

A eficácia dessas tábuas, portanto, é interpretada como poder mágico, e a destreza do escultor é diretamente ligada a essa magia. O mesmo princípio se aplica à horticultura dos Trobriand, que Gell descreve como uma "obra de arte coletiva".


A magia do horticultor é exercida através de "feitiços" (uma forma de arte verbal) demonstrando que a magia é uma habilidade de performance cultural. Nesses contextos, a magia não é vista como algo separado, mas como o "contorno negativo" da atividade técnica. A ideia de que um resultado pode ser alcançado com menos esforço do que o real é atribuída à magia, tornando a "tecnologia do encanto" visível.


Em suma, a antropologia de Gell nos convida a ver a arte de uma maneira mais ampla: não como um objeto passivo a ser apreciado, mas como uma força ativa e mágica, intimamente ligada à produção técnica e com a capacidade de gerar eficácia social.


Mas fica a pergunta: será que esse processo só acontece na arte? se ele acontece em outros contextos de interação social, por que alguns são chamados de arte e outros não?

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