Minha jornada pela China em 2024
Há viagens planejadas por anos, motivadas pela curiosidade e pela vontade de entender o que, à distância, parece um universo de nuances e significados. Viajar para a China este ano foi, para mim, a realização de um projeto pessoal e acadêmico que começou há muito tempo, quando, aos 15 anos, o interesse pela filosofia taoista e pelas artes marciais me apresentou um país complexo e fascinante.
Chegar a Shanghai foi como me ver inserido em um local diferente, porém, estranhamente familiar. Diariamente, eu experimentava uma imersão completa – desde o idioma, que pude utilizar com uma diversidade de pessoas, até os costumes que se revelavam no dia a dia, nos próprios modos de convivência. Experienciei a dinâmica de trabalho e o ritmo da vida urbana, marcados pelo pragmatismo, pela objetividade, mas também pela simpatia, disposição para ajudar e pelo respeito ao espaço alheio, independentemente do ambiente. Cada conversa era uma aula de mandarim e uma oportunidade de absorver a visão de mundo única dos chineses das regiões que passei, captada em gestos e modos de pensar que vão além dos livros.
Além de Shanghai, passei por Hangzhou, Suzhou, Changzhou, e, finalmente, por Wudangshan, em Hubei, para visitar as montanhas sagradas do taoismo. A jornada pelas escadarias, com idosos e jovens subindo lado a lado, refletia o espírito de coletividade que tanto caracteriza a cultura chinesa. Mensagens de incentivo, sorrisos despretensiosos e momentos de descanso tornavam a trilha menos solitária. A frase 慢慢来 ("Devagar se chega") ressoava em cada passo: o objetivo não era alcançar o topo sozinho, mas, cada um ao seu ritmo, chegar junto.
Aprendi que na vida é preciso respeitar nossos próprios limites, manter a constância, descansar quando necessário e lembrar sempre que todos, juntos, formam um único corpo em movimento.
Essa vivência trouxe uma compreensão profunda dos valores e símbolos que permeiam a cultura chinesa. Em Shanghai, almocei com entregadores e conversei sobre como se enxergam como parte de um coletivo. Foi durante a viagem de sete horas para Hubei, ao lado de uma senhora simpática, que também percebi essa mesma noção de unidade e pertencimento.
Em Changzhou, nunca esquecerei a sopa de macarrão e carne servida por uma senhora, dona de um pequeno restaurante ao lado do meu hotel. Era uma receita simples, mas que cativava todos ao redor. As experiências foram tantas que é impossível compartilhar todas aqui, mas cada uma trouxe uma nuance que agora me permite traduzir o que é preciso para começar entender (sem qualquer pretensão) o país – seja na esfera empresarial, acadêmica ou social.
Hoje faz uma semana que voltei para o Brasil, mas, de alguma forma, ainda me sinto lá. A China mudou minha percepção sobre identidade coletiva de maneira tão íntima que transformou como enxergo o Brasil. Penso nas diferenças culturais e em como podem ser respeitadas e harmonizadas em uma identidade nacional mais ampla. Levo comigo a experiência de quem viveu a cultura chinesa de forma imersiva, com o olhar antropológico atento a nuances muitas vezes imperceptíveis. Esse olhar não vem do tempo de estadia, mas da maneira como nos permitimos enxergar o outro e compreender suas sutilezas comportamentais.
Estar em contato com a China é, sem dúvida, uma experiência transformadora. Mas também, para quem deseja se aproximar desse universo sem qualquer experiência ou conhecimento sobre o país, digo que é um desafio que requer preparo e sensibilidade cultural. Com o que aprendi nessa jornada pela China, espero apoiar aqueles que buscam se conectar com essa cultura – agora, com um entendimento que vai além das palavras e toca o que é concreto e aplicável em um mundo cada vez mais interligado e interdependente.
Se ficou curioso para ver essas experiências de perto, dá uma olhada nos vídeos que estou publicando da China: https://youtu.be/rIkAb1iTCHc?si=tiBmXifV_hdNysui
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