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Manifesto pela terra brasilis

Hoje é o Dia dos Povos Indígenas. Aproveito esta data para reforçar que a história e o conhecimento dos povos originários do Brasil, assim como dos povos africanos que foram deslocadas para cá, são infinitamente mais ricos e fundamentais do que a leitura histórica que privilegia a construção do Estado a partir do século XVI.


A história do Brasil se estende por séculos antes deste marco. Somos descendentes desses povos, e frequentemente essa riqueza é obscurecida pela narrativa de que nosso país começa apenas com a invasão portuguesa.


Mais do que valorizar os povos autóctones como meros "Outros" internos, devemos reconhecer que eles estão em nós e nós neles. Somos, portanto, uma unidade em meio a toda diversidade e dinâmica relacional.


A elite que edificou o Estado moderno brasileiro era principalmente portuguesa, mantendo o controle do poder e moldando as normas sociais, em detrimento da vasta maioria da população que ficou à margem desse poder. Atualmente, seus herdeiros ainda dominam o parlamento, as grandes empresas e os conglomerados de mídia, perpetuando o poder e definindo as agendas nacionais. Seus sobrenomes continuam a delinear as linhas de poder hereditário. Eles são as verdadeiras minorias, apesar de ainda possuírem o poder.



Defender os povos autóctones e refletir sobre as comunidades africanas transportadas para esta terra brasilis, não é simplesmente valorizá-los como peças de museu ou sobrepor suas vozes com uma tutela intelectual. É, antes de tudo, reconhecer que eles sim, moldaram o brasileiro — nossa visão de mundo, nossa alimentação, nossos comportamentos e interações diárias. Reconhecer que a história desses povos é a verdadeira História do Brasil significa ver que nossa origem nesta terra é milenar, e que foi enriquecida pelos africanos aqui trazidos como escravizados.


Ao compreender que essa mistura cultural permeia cada esquina e viela do país, poderemos romper com a falsa imagem de um Brasil meramente colonizado por portugueses, que só "por acaso" incluiria negros e povos autóctones. Mudaremos a narrativa para entender que o Brasil é, essencialmente, um país de pessoas cujas raízes são tão profundas quanto ancestrais.


A verdadeira história ainda vibra em cada centímetro desta terra, em cada sotaque e palavra adaptada do português europeu, em cada tempero, em cada modo de falar, agir e perceber o mundo, em cada prática espiritual ancestral deste canto do globo. Está em cada tom de pele e em cada sorriso genuíno, características que jamais existiriam se fossemos apenas um país de "europeus".


Somos, na verdade, muito mais do que descendentes e nossa cor é a cor ancestral dessa terra.




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